10 de Setembro, 16h
Eu, curadora, manejando efemeridades
Lila Foster
Como curadora de mostras de cinema, oscilo entre dois polos temporais. Uma parte do meu trabalho é dedicada ao passado do cinema brasileiro, escavação e arqueologia que pretendem trazer à luz filmes pouco vistos e estudados, mas que existem em algum arquivo, cinemateca ou nas casas de seus realizadores. Dar a ver o que existe, mesmo que no lampejo de algumas sessões de cinema. No outro extremo, a lida com um universo enorme de filmes brasileiros contemporâneo que, em grande parte, não serão vistos ou que farão parte apenas de um circuito reduzido de exibição. Esses filmes existem também como lampejos, sem o “privilégio” de terem garantida a sorte de um novo encontro no futuro. O digital e a radicalização da efemeridade.
A curadoria de cinema foi um campo profissional que teve crescimento exponencial nos últimos anos, uma atuação crítica/artística marcada por uma riqueza de enfoques e perspectivas sobre o cinema. Teorizar esse acúmulo de experiências ou até mesmo definir as coordenadas deste trabalho tem sido o esforço de alguns pesquisadores, muitas vezes tomando de empréstimo o percurso da profissão no campo das artes visuais e sua relação com a etimologia da palavra: curare = cuidar. Cuidar da matéria que compõe a obra, cuidar do lugar da arte na história, cuidar das conexões entre artistas, profissionais e espectadores. Em um debate durante a Mostra de Cinema de Tiradentes, um realizador foi perguntado sobre o que aconteceria com o seu filme a partir dali: como o filme sairia da bolha? Como ele pretendia distribuí-lo? Ao que ele respondeu: vejo o meu filme quase como uma peça de teatro, existiu aqui, vai existir de forma efêmera em outros lugares e pronto. Lembrando: vai existir de forma efêmera sem ter a sorte de um novo encontro no futuro. Manejando efemeridades, proponho pensarmos como essa nova materialidade da imagem em movimento ilumina e traz questões para o trabalho em curadoria audiovisual.
Lila Foster é pesquisadora, curadora e preservacionista audiovisual. Atualmente é pesquisadora colaboradora vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília com projeto dedicado à história do “Festival Brasileiro de Cinema Amador”, organizado pelo Jornal do Brasil entre 1965 e 1970. Articulando pesquisa histórica e preservação audiovisual, o seu trabalho concentra-se no levantamento da produção amadora e de filmes domésticos no Brasil. Como curadora, atuou nos festivais Curta 8 – Festival Internacional de Cinema Super 8 de Curitiba, (S8) Mostra de Cinema Periférico (A Coruña, Espanha), Goiânia Mostra Curtas, Festival Internacional de Cinema Ambiental, Mostra de Cinema de Tiradentes e da Mostra de Cinema de Ouro Preto.
A reprodutibilidade digital como obra
Lucas Murari
Qual o papel da tecnologia na distribuição e consumo de trabalhos artísticos no século XXI? Como a internet está relacionada a essa difusão? E de que forma os artistas se valem de uma gramática da sabotagem para subverter os valores comerciais instituídos? Esta comunicação busca refletir sobre net art como estratégia de apropriação e ressignificação parasitária no âmbito digital.
Lucas Murari é pesquisador de cinema experimental e arte de vanguarda. Doutor em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com período sanduíche na Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3 (bolsa CAPES). Mestre pelo PPGCOM/UFRJ (2015). Foi bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) entre 2013 e 2019. É editor-executivo da Revista Eco-Pós (UFRJ). Tem experiência na área de Artes, Cinema e Comunicação. É membro fundador da plataforma RISCO Cinema e um dos curadores do DOBRA – Festival Internacional de Cinema Experimental. Atualmente realiza estágio de pós-doutorado na ECO/UFRJ sobre cinema de vanguarda no Brasil (bolsa CAPES).