2019 – Apresentação de Pesquisas – Painel 3

QUINTA-FEIRA 10/09 – 10h30
Cine Metrópolis – UFES

APRESENTAÇÕES DE PESQUISA | PAINEL 03

 

Considerações sobre os efeitos ideológicos do aparelho de base da Realidade Virtual
Rafael Romão (UFF)

Nossa abordagem pontua o que a teoria do aparelho de base do cinema nos diz sobre o audiovisual de três graus de liberdade (3DoF) apresentado em head-mounted displays (HMD), frequentemente chamado de Realidade Virtual. Resgatamos a discussão de Jean-Louis Baudry sobre como o aparelho de base do cinema é uma configuração que produz um sujeito transcendental. Em seguida refletimos sobre quais transformações ocorrem na experiência em RV com HMD, principalmente a partir da quebra do repouso do espectador. Desenhamos considerações sobre um sujeito transcendental que tem a ilusão da ação significadora, o que aplicamos à recepção da obra cinemática para RV Rio de Lama. Produzido por Tadeu Jungle, a obra propõe a construção de um memorial das vítimas do crime ambiental de Mariana/MG. Causa de grande comoção, o vídeo aponta para a possibilidade de significar a ação como inútil, gerando uma quebra de expectativa no espectador/interator.

 

Estruturas contemporâneas de prática audiovisual: o vídeo 360º
Lyara Oliveira (USP)

A elaboração de conteúdo audiovisual ganhou uma grande ênfase nas últimas décadas. Surgiram novas plataformas de divulgação e compartilhamento, novas tecnologias de produção, outros modos de recepção. Compreendemos esse movimento como uma ampliação do campo simbólico que abarca diferentes meios de produção, veiculação e recepção dos mais diversos meios audiovisuais, o que podemos chamar de semiosfera audiovisual. Recentemente, a viabilidade tecnológica de agregar diferentes elementos, como o desenvolvimento dos aparatos de captação de imagens, com o uso de múltiplas lentes; o avanço  dos equipamentos de recepção, em especial a possibilidade usar smartphones como telas para assistir a conteúdos audiovisuais; e o aumento da capacidade do processamento de dados em tempo real, trouxeram à tona uma nova tecnologia audiovisual: o vídeo 360º. Também conhecido como vídeo esférico, vídeo panorâmico ou realidade virtual cinematográfica, o vídeo 360º configura diferentes potencialidades tanto na instauração de novos formatos de produção e exibição, quanto no exercício poético criativo. Neste artigo, realizamos uma breve apresentação sobre esse recente formato audiovisual, delineando como se configura o vídeo 360º, quais as técnicas utilizadas para produzi-lo, quais as estruturas de produção e exibição necessárias, assim como refletindo sobre o modo como novos modelos de fluxo de produção estão sendo estabelecidos e que tipo de conteúdo vem sendo realizado.

 

Algoritmação, narrativas da vantagem e invenção de possíveis
Gustavo Lemos

No livro O Espectador Emancipado, Jacques Rancière deixa claro que a ficção não é oposta ao real: é antes o trabalho dissensual que rearranja a realidade. Em suas palavras, a realidade é a “ficção dominante, a ficção consensual, que nega seu caráter de ficção fazendo-se passar por realidade e traçando uma linha de divisão simples entre o domínio desse real e o das representações e aparências, opiniões e utopias.” Partindo dessa ideia, analiso a narrativa da vantagem (minimizar gastos e maximizar lucros), por meio da perspectiva da ficção científica, fazendo referência a trabalhos cinematográficos e audiovisuais; ao debate científico-tecnológico referente à criação de inteligência artificial, às melhorias cognitivas e biológicas, à migração de mentes para a realidade virtual e à colonização espacial; à narrativa jornalística; e aos arranjos técnico-sociais das tecnologias digitais. Nesta narrativa, age simultaneamente como conteúdo, forma, dinâmica e efeito, a algoritmação – herdeira da Caça às Bruxas (Silvia Federici) e forma recente de cercamento que nos expropria da capacidade de invenção de possíveis, ao nos deixar apenas opções. As escolhas, por sua vez, servem para que os algoritmos aprendam a oferecer opções ainda mais restritivas, sedutoras e eficientes (Antoinette Rouvroy).  Defendo que o retorno à invenção de narrativas possíveis, que não se esgotam nas opções dos especialistas certificados, é fundamental para evitar que se cristalize essa ficção na qual o ser humano, obsoleto e mal intencionado, só pode encontrar saída para o desastre generalizado que concede carta branca aos algoritmos, das opções de consumo aos vereditos de julgamentos.

 

Notas sobre a interface em Harun Farocki e Robert Rauschenberg
Alessandra Bergamaschi (PUC-RJ)

O artigo aborda a reflexão de Harun Farocki sobre as conversões – ou interfaces – entre o mundo e as imagens técnicas, tema crucial na década de 1990, devido à convergência entre novas mídias, arte e cinema. Propomos, a partir disso, uma digressão histórica sobre os sinais dessas conversões na obra de Robert Rauschenberg, na passagem entre modernismo e pós-modernidade.