2019 – Apresentação de Pesquisas – Painel 1

TERÇA-FEIRA 10/09 – 14h
Cine Metrópolis – UFES

APRESENTAÇÕES DE PESQUISA | PAINEL 01

  

Intervalo/Interstício: a experiência corporal e o “plano intermediário” em ambientes VR

Maja Manojlovic (UCLA, Estados Unidos)

 

Este artigo explora as estruturas profundas das experiências corporais do espaço-tempo por parte dos usuários em ambientes de VR, abrangendo os aplicativos de pintura Tilt Brush VR (2016), da Google; Bloodless (2017), de Gina Kim; Greenland (2017), de Nonny de La Peña; e Awavena (2018), de Lynette Wallworth. Assim como no cinema digital, a VR altera não apenas a aparência das imagens, mas também a forma como usamos nossos sentidos para compreendê-las. Os deslocamentos de VR reconfiguram nossa experiência de espaço e tempo, tanto nas experiências virtuais quanto em nosso cotidiano, forçando-nos a desafiar temporariamente nossa percepção e criando uma lacuna em nosso processo de pensamento. Chamo tais pausas e intervalos simultâneos de intervalos/interstícios, que geram o que Paul Klee chamou de “plano intermediário” (Zwischenwelt): “a meio caminho entre um domínio exterior objetivo e um reino imaginário interno subjetivo”, um mundo não visto na experiência comum. Segundo Francis Bacon, o que surge é “a força da imagem”, levando a “uma abertura para outra área de sentimento” (Bogue). Este artigo articula exemplos dessa outra área de sentimento, emergindo de nosso encontro corporal com a força das imagens 3D situadas no espaço-tempo intervalar/intersticial dos ambientes VR. Experiências assim articuladas e corporificadas em ambientes VR podem contribuir para uma melhor compreensão do “contato sensorial expandido com a ‘sensibilidade mundana’ que a mídia do século XXI possibilita” (Hansen).

 

 

 

Materia Obscura (2009): metamorfose alquímica e a transmigração analógico-digital
Rodrigo Faustini (USP)

Propõe-se analisar a performance audiovisual Materia Obscura (2009), de Jürgen Reble e Thomas Köner, considerando as implicações de sua visualidade híbrida entre a tecnologia digital e a matéria analógica. A performance surge como transcodificação de um filme anterior, Instabile Materie (1995), composto por quimigramas em película 16mm, escaneados e trazidos para a performance, em que um software de processamento ao vivo permite que o fotograma seja trabalhado elasticamente, através de frame blendings e pixel motion, resultando num filme em fluxo contínuo de morphs, colaboração entre artista e máquina que projeta imagens ponderadas (weighted) em tempo real pelo computador. Na obra, uma dinâmica entre ruído e informação, é posta como especulação do surgimento de organizações da matéria – sempre em movimento –, das quais uma (proto)subjetividade híbrida emerge. Como podemos pensar via N. Katherine Hayles, Vivian Sobchack e Bruno Latour: os quase-objetos renderizados ao vivo operam uma passagem do corpo analógico ao digital, duplicada como dinâmica entre forma e processo. Ou melhor, informe e processamento (na animação, a criação de intermediários é a essência do morph), considerando os dados amorfos dos quimigramas alimentados à máquina, que sutura tais irregularidades com movimentações anômalas de pixels. Por fim, podemos pensar o uso da tecnologia por Reble de acordo com sua proposta de cinema alquímico, no qual a transmutação da matéria encontra-se com a transmigração de formas operada via codificação e algoritmos, sendo o processamento de dados situado como a matéria escura em si especulada pela obra.

 

Exceção, excesso e excedente no trabalho da arte generativa: notas sobre uma economia criptopolítica da imagem-algoritmo
Daniel Hora (UFES)

Este artigo toma como ponto de partida a expansão da arte generativa baseada em inteligência artificial. A partir disso, apontamos alguns requisitos para a constituição de uma crítica da economia criptopolítica, isto é, o conjunto de relações codificadas de trabalho e intercâmbios além-do-humano praticados por máquinas e sistemas envolvidos na realização e fruição da imagem-algoritmo. Abordamos as aberturas e os bloqueios dessa economia como um problema estético, referente à sensorialidade da arte e que concorre com bens e serviços tecnológicos complexos do mundo contemporâneo. Tal problema gira em torno das demandas impostas para uma assimilação reflexiva que envolva tanto o lado explícito, quanto o lado subjacente da poiésis probabilística da inteligência artificial. Essa operação se manifesta de maneira ambígua, pois a excepcionalidade da informação que se pretende extrair como arte se sustenta na excessividade crescente da memorização de dados e da capacidade das unidades de processamento. Por outro lado, exceção e excesso parecem intimamente ligados à produção de excedentes econômicos associados às demandas de consumo e à oferta de produção. Como recurso metodológico, são salientadas as correspondências da produção generativa baseada em Inteligência Artificial com os modelos de compreensão pós-conceitual, pós-midiático e pós-digital que os fenômenos recentes do sistema da arte suscitam. Por fim, apontamos a adequação sintomática desses modelos para avaliações mais amplas sobre a esfera econômica e política.