2014 – Painel: IMPLANTANDO IMAGENS

Vitória: 26/08, 15h, Cine Metrópolis, UFES

O lugar das webséries no audiovisual contemporâneo
Daniela Zanetti e Lucas Octávio Cândido da Silva (UFES)

O presente trabalho especula sobre qual o lugar e as funções das webséries no campo audiovisual contemporâneo. Para tanto, mapeia diferentes tipos de produtos audiovisuais que se ancoram na Web e se ramificam para outras telas, especificamente a televisão e o cinema. A websérie se caracteriza como sendo um produto típico da Internet, assim como os chamados websódios e os hiperseriados. Decorre do processo de “migração” do audiovisual para o computador. O surgimento de conteúdos audiovisuais criados especificamente para a internet e a migração de produtos adaptados do cinema e da televisão para a Web têm promovido uma nova cultura de consumo e fruição de obras audiovisuais, o que também redimensiona a esfera da produção e da distribuição de conteúdo. Essa dinâmica tem afetado sensivelmente a dimensão das narrativas audiovisuais, resultando, por exemplo, no aparecimento de gêneros híbridos e das chamadas narrativas transmidiáticas, decorrentes da convergência das mídias. Parte-se do pressuposto de que as webséries, enquanto produto audiovisual desenvolvido para plataformas on line e interativas, mantém alguns princípios da serialização nos quais se baseiam as ficções seriadas televisivas, porém amplificando as possibilidades de fragmentação das narrativas.

Grupos de torrent cinéfilos e o cinema brasileiro: Modelos de Arquivamento e Canonização da Distribuição Informal
Angela M. Meili (PUCRS)

Em meio às soluções informais para o compartilhamento de filmes online, grupos de torrente privados apresentam um vasto e diverso catálogo de filmografias específicas. Como células de distribuição altamente organizadas e orientadas pelo conhecimento, elas expandem a experiência do cinema e contribuem com as novas cinefilias da era digital (Iordanova e Cunningham, 2012; Betz, 2010). Essa “evolução nos meios de cultivar o prazer cinematográfico” é uma consequência do desenvolvimento de tecnologias da informação (Jullier e Leveratto, 2012). Eu localizo os grupos de torrent cinéfilos (CTGs) dentro de uma categoria mais ampla de grupos de torrent privados (PTGs) e sugiro que exista um discurso de canonização particular nos CTGs, combinando conhecimento acadêmico com a experiência comunitária do amador (Carter, 2013). Nesse trabalho, analiso um CTG brasileiro e observo como as regras e o acervo específicos dessa comunidade dão forma a um discurso de canonização e a um arranjo particulares da história do cinema; essa formação discursiva (Foucault, 1987) é a reunião de diversos tipos de apreciação cinemática, resultando em um objeto cultural único. Discutirei como esse objeto pode interferir com o presente e o futuro da experiência cinemática, falando especificamente sobre o cinema brasileiro e o modo como ele é definido e selecionado pelo CTG.

Da superfície da tela à pele do mundo e ao museu
Annádia Leite Britto (UFCE)

Tendo herdado uma coleção com cerca de 10 mil fotogramas catalogados em álbuns artesanais e outros 25 mil soltos sem referência alguma, todos do cinema clássico realizado entre às décadas de 1920 a 1960, o artista Solon Ribeiro se apropria dessas imagens e as desloca na composição de dispositivos de visualização, que passam a abri-las em ressignificações. Aproximamo-nos do trabalho realizado nas obras Sage (2008), Circus (2013) e Perdeu a memória e matou o cinema (2013), nas quais o artista elege alguns frames para serem projetados em certos espaços urbanos. O registro dessa ação dá ensejo a uma imagem terceira, um outro filme. O objetivo é perceber como ocorre a migração do cinema clássico narrativo para outras estruturas fragmentárias, agora exibidas em exposição, e o que de fato acontece com essas imagens. Importa aqui a figura do projecionista como elemento liberto da cabine e que passa a animar os fotogramas através da movimentação de seu corpo. Investigamos a característica processual e de constante experimentação na passagem dos fotogramas entre a sala escura, a cidade e o cubo branco do museu.