2017 – Painel – Projeções do Passado e do Futuro

Vitória: 25/11, 16h, Cine Metrópolis, UFES

Slide e super-8: primeiros passos do experimentalismo audiovisual no Brasil (Roberto Cruz)

Viveu-se no Brasil, no período que transcorre do final da década de 1960 até os anos da redemocratização no início da década de 1980, um momento de afirmação da cultura nacional contemporânea e da necessidade de identificação com as correntes artísticas internacionais. Vitimado pelo domínio de uma doutrina política de restrições e pouca liberdade de expressão, o artista divagava entre a herança do neoconcretismo, as tendências da nova objetividade brasileira e o interesse pelos novos suportes. Neste contexto, o slide e o super-8 eram mídias recentemente desenvolvidas e estavam destinadas ao mercado de consumo doméstico. Motivados pela potencialidade que estas tecnologias ofereciam como formas de expressão de linguagem, os artistas passaram a experimentar com estes novos meios. Estes trabalhos ocorreram de maneira discreta, resultante de uma produção que se restringiu a poucos grupos e que raramente encontrou respaldo das instituições artísticas. Circulando por mostras ou festivais alternativos, presentes em uma ou outra exposição de maior repercussão, esta produção ficou praticamente esquecida pela crítica de arte e, de certa forma, ainda carece de uma pesquisa mais aprofundada.

Roberto Moreira S. Cruz é curador independente e produtor cultural. Possui doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Está vinculado especialmente às áreas de vídeo e filmes de artista, interessado em cinema expandido e artistas brasileiros que trabalhem nessas áreas. Realizou a curadoria de importantes exposições de vídeo, cinema e live image, trabalhando principalmente em colaboração com o Itáu Cultural, onde atualmente realiza consultoria para a aquisição e constituição da coleção de filmes e vídeos de artistas para a instituição. Também idealizou e coordena a Duplo Galeria.

 

Curando o passado cinematográfico: exibições de eventos no Prince Charles Cinema (Virginia Crisp)

Esse artigo vai apresentar descobertas de um estudo empírico do Prince Charles Cinema (PCC), em Londres, conduzido em colaboração com o Dr. Richard McCulloch (Regent’s University, Londres). Apesar de ser uma sala de projeção second-run, que conta com diversos lançamentos em sua grade, o PCC busca estruturar sua programação primariamente em torno de exibições de material “cult” ou “nostálgico”, tais como Tubarão, Meninas Malvadas, e retrospectivas de John Hughes. O cinema também se especializa em “eventos” cinemáticos, que tomam a forma de maratonas que duram a noite toda, ou que convidam o público a cantar junto com o filme ou se fantasiar como os personagens. O que teria levado o cinema a buscar essa abordagem, e a qual tipo de público ela se endereça? Ainda que esse tipo de projeção aliada a eventos tenha crescido em popularidade recentemente, aquilo que o PCC oferece é impressionante por causa de sua localidade central e o fato que os “eventos” são a regra da programação, e não a exceção. Ao invés de encorajar a norma de espectação silenciosa e reverente do filme, a programação do Prince Charles estimula ativamente o comportamento participativo do público. Como essa maneira de apresentar o filme se relaciona com a longa história de práticas marginais de consumo cinematográfico, e o modo como elas se tornaram progressivamente mainstream?

Virginia Crisp é professora de Mídia e Comunicação na Universidade de Coventry. Ela é autora de Film Distribution in the Digital Age: Pirates and Professionals (2015) e co-editora (com Gabriel Menotti) de Besides the Screen: Moving Images through Distribution, Promotion and Curation (2015). Crisp é uma das coordenadoras da rede de pesquisa Besides the Screen.