2017 – GT03 – Atiçando os acervos

Vitória: 24/11, 13h30, Cemuni V, UFES

Em defesa da imagem (Patrícia Mourão (USP))

Em 2015 as principais salas de cinema de Nova Iorque voltadas para filmes de repertório ou cinema independente dedicaram programações a formatos de projeção ou características técnicas do cinema. Motivadas pela mudança do analógico para o digital no fazer e no exibir cinematográfico, essas programações lançavam luz a aspectos técnicos do cinema e, sobretudo, a sua dimensão experiencial. Em resposta às telas pequenas e luminosas, eles traziam o cinema na sua mais gloriosa forma; ao invés da experiência privada, um encontro coletivo.

Antes dos programadores, artistas vinham respondendo de maneiras distintas a essa mudança. Assim, enquanto Tacita Dean colocava-se como a guardiã do 16 mm, e parte de sua obra sedimentava-se como uma espécie de lamento e canto poético à obsolescência de uma técnica, uma outra artista, Hito Steyerl. defendia, explorava e turbinava as potências éticas e estéticas da imagem digital “pobre”, corrompida, de baixa qualidade, apontando para o que poderia haver de elitismo no culto à película.

As desconfianças de Steyerl parecem partilhadas por cineastas como Frederick Wiseman, Joel Cohen, James Benning que, nos últimos anos, voltaram-se para museus do século XIX. National Galery, Museum Hours e National History Museum são estudos lentos sobre a dinâmica, o funcionamento, os tempos de três importantes museus europeus, que enfrentam as dificuldades de se adaptar a um novo público leigo e global. Estariam estes cineastas, ao olhar para os museus do século passado, tentando imaginar o espaço que os aguarda quando o cinema também tiver perdido seu sentido coletivo e partilhado?

Doutoranda em cinema pela Universidade de São Paulo, com bolsa sanduíche na Columbia University, atualmente tem a pesquisa voltada para a autobiografia no cinema de vanguarda norte-americano. Mestre em comunicação e semiótica pela PUC-SP. Atua também como programadora, professora e produtora. Foi curadora das mostras: Cinema Estrutural (Caixa Cultural, 2015), Jonas Mekas (CCBB, 2013), Cineastas de nosso tempo (Caixa Cultural, 2012), O cinema de Naomi Kawase (CCBB, 2011), Harun Farocki: por uma politização do olhar (Cinemateca Brasileira, 2010). Organizou o livro Jonas Mekas (Cinusp, 2013) e coorganizou, entre outras, as seguintes publicações: Cinema Estrutural (Aroeira, 2015); Straub-Huillet (CCBB, 2012); David Perlov: Epifanias do Cotidiano (CCJ, 2011), O cinema de Pedro Costa (CCBB, 2010). Foi produtora do filme Já visto jamais visto (2013), de Andrea Tonacci, e atualmente coordena um projeto de recuperação de parte do acervo do cineasta.

 

Cinemas temporários como uma historiografia vernacular (Maria Antonia Velez-Serna (Universidade de Stirling))

No folder do festival Scalarama 2014, uma série de exibições cinematográficas que acontecia por todo Reino Unido, os organizadores convidavam os participantes a “encher o país de cinemas para que todos possam encontrar um lugar para assistir filmes juntos. Esse desejo de transformar pubs, galerias, parques e até mesmo barcos em espaços temporários de projeção recentemente se cristalizou no termo “pop-up cinema”, ainda que tenha um passado muito mais distante. O pop-up cinema articula a ideia de experiência coletiva a partir do que o cinema foi anteriormente, conforme a perspectiva do que Robert C. Allen chamou de “era pós-moviegoing”.

Esse artigo introduz um projeto de pesquisa sobre cinemas temporários que se inicia a partir de estudos de caso pilotos, como os festivais Scalarama e Glasgow Southside desse ano. O artigo questiona a relação entre os espaços de exibição e as escolhas de programação, indagando como as estratégias e discursos curatoriais colocam o pop-up cinema em relação à história do cinema.

Maria A. Velez-Serna is a post-doctoral researcher with the Early Cinema in Scotland project at the University of Glasgow, and co-editor of the project’s outputs, including a collection forthcoming from Edinburgh University Press. From October 2015 she will be based at the University of Stirling as a Leverhulme research fellow working on pop-up cinemas. She is also a co-ordinator of the HoMER Network (History of Moviegoing, Exhibition and Reception, http://homernetwork.org) and organiser of its 2015 conference, and a board memeber with Document International Human Rights Film Festival. She has published on Scottish and Colombian cinema history and audiences in the Historical Journal of Film, Radio and TV, NECSUS, the International Journal of Humanities and Arts Computing, Post-Script, and Particip@tions.

 

O dispositivo cinema nos espaços de artes visuais (ênfase para o elemento tela) (Viviane Vallades (USP))

Nas exposições, galerias de arte, espaço urbano, observamos atualmente a presença de numerosas obras de imagens em movimento projetadas. Estas obras se utilizam em sua construção do dispositivo cinema: projeção, tela, espaço escuro, filmes, mas produzem alterações na forma padrão dominante de apresentação associada a esse dispositivo: espectador sentado, duração imposta de observação de aproximadamente 1 a 2 horas, sala escura, projeção única e frontal sobre uma única tela, apresentada em uma sala com a arquitetura semelhante à do teatro italiano.

A presente pesquisa destina-se a estudar as alterações que estão sendo feitas com esse dispositivo nos espaços de artes visuais. Observaremos sucintamente algumas modificações realizadas nesse dispositivo e focaremos na tela, através do estudo desse elemento. Para isso, faremos descrições de algumas obras, que façam uso da tela de forma diferenciada do padrão, alterando sua quantidade, disposição no espaço, formato e materialidade, como Experiência de cinema/ 2004 de Rosângela Rennó, The Influence Machine (2000) de Tony Oursler, algumas das obras do Bloco de Experiências in Cosmococa- program in progress de Helio Oiticica e Neville D’Almeida, 24 Hour Psycho (1993) de Douglas Gordon, e algumas obras de Viviane Vallades como a série: Autorretrato com duração e sons variáveis (2011-2014) que trabalha a projeção sobre telas de gelo e Pintura em atos (2012) videoinstalação com projeção sobre tela de eucatex perfurada e suspensa pelo espaço expositivo.

Viviane Vallades é doutoranda em Artes Visuais/ Poéticas Visuais na ECA USP, com orientação do Prof. Dr. Hugo Fernando Salinas Fortes Júnior. Artista plástica formada pela UNESP em 2006 e mestra em Meios e Processos Audiovisuais ECA- USP com orientação do Prof. Dr. Almir Antonio Rosa. Pesquisa cinema de exposição, cinema expandido com ênfase para os modos diferenciados de exibição das imagens em movimento como o uso de telas de exibição de imagens (principalmente as projetadas) de diferentes formatos, quantidade e materiais. Pesquisa também ações performáticas realizadas para a câmera e as temáticas de seu trabalho que tratam de questões existenciais, de memória e efemeridade.Participa de exposições e festivais, dos quais se destacam: FILE- Festival Internacional de Linguagem Eletrônica em SP em 2014 e 2012, II Salão Xumucuís de Arte Digital, Belém-Pará/ Brasil, no ano de 2013, XI Bienal do Recôncavo (BA) no ano de 2012, dentre outros.