2017 – GT04 – Diálogos entre imagens e disputas de espaço

Vitória: 25/11, 13h30, Cemuni V, UFES

Projeções expandidas: as interferências de Krysztof Wodiczko no Espaço Público (Thiago Carrapatoso (Bard College)

A cidade em si pode ser considerada um organismo vivo. Ela respira (sistema de ventilaçãodo metrô, sacos plásticos voando), move-se (novas construções, demolições, abertura de lojas, moradores se locomovendo) e tem sua própria personalidade (história, geografia). São os cidadãos que provocam a existência deste organismo vivo quando se relacionam com os espaços físicos que a cidade oferece. A fim de tornar essas relações visíveis, é necessário um estranho, o outro, alguém que explore e compreenda a cidade como um organismo vivo e faz com que o seu sentido emirja. Este artigo investiga as obras do artista polonês Krzysztof Wodiczko como uma forma de fundamentar o conceito de uma projeção expandida e para demonstrar como elas questionam a relação entre cidadãos e espaços públicos.

Thiago Carrapatoso é jornalista, especializado em Comunicação, Arte e Tecnologia e mestre peloCenter for Curatorial Studies (CCS) da Bard College (NY). Ele é um dos fundadores do cluster criativo Casa da Cultura Digital e do Movimento BaixoCentro, ambos em São Paulo. Em 2010, recebeu uma bolsa da Fundação Nacional das Artes (FUNARTE) para pesquisar arte e tecnologia no país, desenvolvendo o ebook “Arte do Cibridismo”. O estudo recebeu o prêmio da Fundação Bienal de São Paulo como uma das melhores pesquisas sobre arte no Brasil. Hoje, é coordenador executivo do Theatro Municipal Digital de São Paulo.

 

Além da tela, o acervo: disputa pelo espaço museal (Sônia Aparecida Fardin (MIS Campinas))

O Museu da Imagem e do Som de Campinas vem se diferenciando na realização de mostras de audiovisuais nas quais todo o ciclo organizativo é autogestionado por coletivos culturais e movimentos sociais, da programação à divulgação de sessões gratuitas seguidas de debates e rodas de conversas. Nestes exercícios de autonomia curatorial, diversos segmentos sociais ocupam o museu de segunda a sábado, com frequência semanal de 200 a 400 usuários. Trata-se de uma bem-sucedida estratégia de democratização do acesso aos instrumentos de fruição da memória e da cultura visual internacional.

Mas esta opção não objetiva mera sustentação institucional pela ampliação de atendimentos. Seu foco é desvelar as lógicas de poder contidas nas relações tradicionais entre museus/públicos e cinemas/frequentadores. Seu propósito é subverter os usos políticos de territórios culturais, espacialidades institucionais e competências técnicas e estéticas, historicamente hegemonizados nas sociedades capitalistas pela pequena parcela que acessa recursos e conhecimentos legitimatórios.

A condição de sujeito na programação audiovisual também tem possibilitado que indivíduos e grupos não hegemônicos se tornem autores de processos de documentação museológica, pois as produções que selecionam para exibição ganham também lugar no acervo do museu.

Destacam-se as cinco edições anuais da SEDA (Semana do Audiovisual Campinas) e as oito edições do MOSTRA LUTA, produzidas de forma coletiva e independente, que além de exibir, também organizam coleções audiovisuais. Assim, para além da tela e da prática cineclubista, incidem também no acervo como parte das disputas em torno dos campos do audiovisual contemporâneo.

Sônia Aparecida Fardin atua no campo da cultura visual, da produção à preservação. Tem formação acadêmica em História, com mestrado em História Social (Unicamp –  IFCH,  2002) e projeto de doutorado em Artes Visuais (IA – não concluído). Trabalha na equipe do Museu da Imagem e Som de Campinas em ações de museologia social e na organização, preservação e difusão de acervos visuais. Concomitantemente, participa de projetos de memória das lutas contra a ditadura militar, em movimentos mídialivristas, de democratização da comunicação e de defesa dos direitos humanos. Também faz parte do coletivo Socializando Saberes, do Conselho Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de Campinas e do Comitê de Apoio da Comissão Nacional de Anistia.

 

Tem muita vida aqui dentro – curadoria como investigação e resposta (Gabriela Motta (USP))

Em 2009 recebi uma carta com o título Tem muita vida aqui dentro, do cineasta Fabiano de Souza, meu marido. A carta foi redigida durante um festival de cinema e é um desabafo sobre um momento de crise existencial e artística. Em 2011, Fabiano reencontrou a carta e, pensando em fazer um filme, resolveu enviá-la para vinte realizadores pedindo que lhe respondessem de forma audiovisual. Desses todos, onze cineastas responderam e o resultado foi um material composto por dez vídeos e uma fotografia. Neles, imagens diversas, com pontos de vista masculinos e femininos, gravadas em locais tão diferentes como Veneza e Punta Del Diablo, São Paulo e Éfeso.

Em 2014, pela primeira vez, assistimos juntos todo o material reunido nesse projeto de filme. Ao final, ao vermos estas diferentes imagens, percebemos a qualidade individual de cada uma e que transformá-las em uma narrativa linear seria limitar a potência deste projeto. A partir daí, concebemos uma instalação em que esse conjunto é exibido ao lado da carta que os motivou, explorando não só as várias interpretações que o texto gerou, mas também propondo relações entre elas. Como crítica e curadora, entendo que realizar essa exposição e discutí-la no âmbito das artes visuais é a minha resposta à carta que recebi em 2009.

Em que pese o meu declarado envolvimento pessoal no projeto Tem muita vida aqui dentro, a ideia de apresentá-lo em um contexto expositivo pretende acercar-se das múltiplas possibilidades de trânsito entre o espaço de veiculação do cinema e o espaço expositivo das artes visuais. Ao mesmo tempo, a partir dessa proposta, é possível abordar os vínculos afetivos e a permeabilidade entre a atividade de curadoria e a manifestação artística própriamente dita. Isso se dá na medida em que o projeto em questão surge da sobreposição de pontos de vista: de um lado o cineasta e marido, de outro a curadora e esposa.
Gabriela Kremer Motta é curadora, crítica e pesquisadora em artes visuais. Possui mestrado (UFRGS) e doutorado (USP) em Teoria e Crítica da Arte. Faz parte do comitê de indicação do Prêmio IP Capital Partners de Arte – PIPA/2015. Em 2014, integrou a comissão curatorial da 6a edição do prêmio Marcantonio Vilaça CNI-SESI. Foi curadora coordenadora do programa Rumos Itaú Artes Visuais, edição 2011/2013 e curadora assistente da edição 2008/2010 do mesmo programa. Em 2012 desenvolveu projetos com as instituições MAC – USP, MAC Niterói e Fundação Iberê Camargo. De 2008 à 2010, fez parte do grupo de críticos do Centro Cultural São Paulo. Como curadora realizou, entre outras, as exposições individuais CANTOSREV, (Nelson Felix, Porto Alegre, 2014); Canto Escuro, (Luiz Roque, Porto Alegre, 2014); Um vasto Mundo, (Romy Pocztaruk, Curitiba, 2014); A invenção da Roda, (Letícia Ramos, Porto Alegre, 2013).  É autora do livro “Entre olhares e leituras: uma abordagem da Bienal do Mercosul”.