2014 – Painel: MANUFATURANDO VISÕES

Vitória: 27/08, 17h, Cine Metrópolis, UFES

Visão computacional e visualidades contemporâneas
André Mintz (UFMG)

Uma das consequências dos já massivos processos de digitalização das imagens, o desenvolvimento de tecnologias de visão computacional, não é recente nem nas ciências nem nas artes. Técnicas de computação voltadas para a interpretação de informações visuais existem desde a década de 1960, tendo sido desenvolvidas e aplicadas também por artistas ao longo dos anos subsequentes. Na década passada, sua aplicação artística se tornou mais comum, especialmente em trabalhos interativos, delineando um possível dispositivo paradigmático da arte-mídia dos anos 2000. Esse artigo busca descrever como essa incidência tem configurado de maneira recorrente o dispositivo de alguns trabalhos contemporâneos, ao mesmo tempo em que considera incorporações indiretas, menos funcionais, que não se relacionam tanto à própria tecnologia, mas sim à aspectos de sua visualidade. Ainda que possamos pensar a visão computacional como claramente posterior e separada da produção e estética das imagens, gostaríamos de promover outro entendimento, segundo o qual algumas das imagens contemporâneas não poderiam ser compreendidas sem considerarmos sua relação com aspectos de seu modo de operar.

Vídeo aberto em 360 graus
Larisa Blazic (University of Westminster)

Softwares livres e de código aberto (FLOSS) têm se estabelecido para a produção de imagens em movimento. O Blender, de animação 3D, já é plenamente adotado pela indústria cinematográfica. Agora, Kdenlive e Panotools vêm oferecer soluções para a criação de vídeo panorâmico com FLOSS. Essa plataforma foi desenvolvida em colaboração com o espetáculo Wall Of Death dos Messham Brothers, tendo sido apresentada nas conferências ICCI 360 e FLOSSIE 2013. Alguns dos softwares examinados anteriormente foram o Processing (usando o método de Golan Levin para desembrulhar imagens produzidas com a câmera Bloggie), Gimp e Blender, entre outros. Essa apresentação trata da pós-produção de vídeo no contexto da imagem panorâmica e do arranjo de telas 360 graus. Ainda que o hardware utilizado nesse processo de pesquisa seja proprietário, já estão disponíveis pacotes e projetos em software livre capazes de cuidar completamente da pós-produção. A apresentação vai examinar esses métodos e workflows como uma oportunidade para a prática artística participatória e a produção de vídeo aberta e colaborativa.

Entre sensores e sentidos: jogando com o tempo e o espaço rumo à materialidade da comunicação
Graziele Lautenschlaeger (Humboldt-Universität)

Esse artigo apresenta elementos preliminares da pesquisa doutoral conduzida no Departamento de Estudos Culturais da Humboldt Univesität zu Berlin. Ele investiga procedimentos para a criação de uma atitude de pensamento-ação mais bem sucedida na criação de arte-mídia, de modo a abraçar seus aspectos essencialmente transdisciplinares e sua habilidade de expressar a materialidade da comunicação. Nosso foco de estudo são “sensores”, cujo conceito e materialidade desempenham um papel central como peça elementar da produção contemporânea de instalações interativas. Sensores são objetos de análise que nos permitem criar pontes entre os micro-universos do mundo físico e o universo infinito da produção de sentido por meio da experiência do corpo no espaço. Ademais, sensores frequentemente integram as chamadas interfaces tangíveis em arte-mídia, como parte de uma estratégia pra capturar a presença e o engajamento do público, na medida em que o papel do interator seja parte do trabalho. A metodologia usada nessa pesquisa possui abordagem histórica e analítica, por meio de arqueologia midiática, técnicas culturais, e cibernética de segunda-ordem. A apresentação será ilustrada por exemplo de como essas questões surgem em trabalhos interativos. Experimentos estéticos com sensores também são empregados para explorar na prática a materialidade da comunicação e o modo como ela opera através da tensão entre efeitos de presença e de sentido.

ETS – Experimentos Técno-Sinestésicos
Filipi Dias, Barbara Pires e Castro, Malu Fragoso e Guto Nobrega (UFRJ)

Esse artigo apresenta o trabalho do Núcleo de Artes e Novos Organismos (NANO) da UFRJ, que tem por finalidade desenvolver pesquisas prático-teóricas na área de artes com foco específico na intersecção com ciência e tecnologia. A motivação do grupo é consolidar um espaço transdisciplinar para a reflexão e fomento de novos modelos cognitivos com base na prática e trocas dialógicas com foco nas artes assistidas pelas tecnologias de comunicação e informação. Como espaço transdisciplinar, no qual trabalham artistas, pesquisadores e estudantes de diversas áreas de conhecimento, tratamos de explorar poéticas que integram o ser humano com o ambiente tecnológico que o rodeia, sem distanciá-lo da natureza – pelo contrário, criando oportunidades e situações em que ambos se aproximam. Para tanto, são criados sistemas híbridos que integram organismos naturais/orgânicos e artificiais/computacionais e eletrônicos. Esses sistemas geram dados que são expressos de forma multimídia por meio de interfaces interativas. Essas, por sua vez, permitem que as pessoas criem relações com estes sistemas a partir da percepção e conscientização de sua autonomia, ou seja, da vida que o sistema adquire por meio das interfaces poéticas. A visualização desses dados é matéria fundamental para uma interação sensível, e nossas pesquisas buscam expandir esse imaginário para além da representação e da figuração.

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