2014 – Painel: PRODUZINDO ESPAÇOS

Vitória: 27/08, 15h, Cine Metrópolis, UFES

Pluralidades do Aqui
Patricia Azevedo (UFMG) & Clare Charnley (Leeds Metropolitan University)

Somos duas artistas visuais e vamos apresentar uma palestra performática sobre nosso trabalho. Separadas geograficamente, habitamos a tela do Skype como um espaço onde concebemos e realizamos jogos e micro-performances que equacionam relações de distância e proximidade. Ações simples, objetos banais e nós mesmas são tomados como material para realizar pequenos vídeos que respondem ao fato de estarmos afastadas espacialmente. Essas ações combinadas tornam-se uma espécie de ponte entre dois espaços, o que pode ser visto como um lugar por direito próprio, um espaço heterotópico justapondo lugares incompatíveis. Esse espaço compartilhado é construído primeiramente na nossa mente, visto que no momento da gravação via Skype ele não pode ser experimentado espacialmente. Da mesma forma, o tempo também se manifesta depois da filmagem, embora os eventos encenados ocorram simultaneamente. O que realmente acontece só pode ser experimentado do ponto de vista do replay – isto é, do ponto de vista da audiência.

Castelo de Cartas
Sonia Guggisberg (PUC-SP)

Castelo de Cartas é uma vídeo-instalação que se propõe a testar a potência das diferentes configurações. O objetivo é propor critérios de montagem capazes de oferecer uma multiplicidade de leituras e elaborar diferentes tipos de repertórios. O foco principal é experimentar maneiras de inversão de códigos visuais e sonoros já existentes no arquivo documental, permitindo explorar outras possibilidades de organização. São recortes de passagens que, reunidos como um repertório de rastros sobre o espaço urbano, são capazes de construir verdadeiras análises contextuais, imagéticas e sonoras. Gravado em diversas demolições, o trabalho vai aos poucos mostrando o desmanchar das estruturas urbanas. É um trabalho que mostra não só quedas de casas e prédios, mas remete à quebra das estrutura de poder, à quebra dos sonhos de manter viva uma realidade que não existe mais. Castelo de Cartas é uma construção sonoro-imagética com 16 telas de vídeo simultâneas, na qual os recortes das imagens são feitos junto com os recortes sonoros, considerando o som sempre como ponto de partida para a montagem da estrutura tanto visual quanto sonora. Com o som das demolições, os cortes em certos momentos organizam uma trilha; em outros, assumem o caos.

Temporalidades múltiplas: as imagens da Jornada de Junho
Kênia Freitas (UFRJ)

Propomos para essa conferência debater sobre a temporalidade das imagens audiovisuais dentro dos protestos que aconteceram no Brasil a partir de junho de 2013. Levantamos a hipótese de que essa produção audiovisual ativista não apenas registra (cria uma memória), não apenas mobiliza (chama para o engajamento) mas disputa o significado do acontecimento (faz uma dobra do presente que se atualiza na circulação imediata das imagens). Assim, discutiremos as implicações políticas e estéticas da transmissão dessas imagens ao vivo na internet. Saberíamos dizer com que tipo de temporalidade estamos lidando ao assistir na mesma tela dividida várias transmissões ao vivo de uma manifestação? Ao vermos lado a lado as várias câmeras ativistas teríamos uma dilatação do presente? Um esvaziamento? A não montagem da transmissão ao vivo possibilitaria um presente perpétuo? Passamos por um deslocamento de indexicalidade da imagem audiovisual: acreditamos que a garantia de veracidade das imagens está cada vez menos ligada a sua origem fotográfica e cada vez mais ancorada no tempo real de sua transmissão. Temos um deslocamento da materialidade das imagens para a sua temporalidade, que nos parece essencial nessa discussão da transmissão ao vivo na internet. São questões como essas que nós pretendemos abordar em nossa apresentação.