2014 – Painel: MATERIALIZANDO MEMÓRIAS

Vitória: 26/08, 17h, Cine Metrópolis, UFES

Mulheres continentais: imagem, memória, lugar e invenção de si
Monica Toledo Silva (UNICAMP)

O projeto “Mulheres continentais” nasce do desejo de mapear corpos que habitam um lugar ao qual não se pertence. A proposta é realizar uma instalação com projeções simultâneas de vídeos produzidos com quatro personagens – mulheres brasileiras artistas – de origens distintas: indígena, africana, latina e oriental. Hoje nos deparamos com imensos êxodos, trânsitos e migrações sem precedentes; discutir identidade, lugar, memória e pertencimento é entrar no terreno fértil da mestiçagem, do contágio, impossível de ser categorizado ou compreendido com nomenclaturas prévias ou pensamentos dualistas. Este lugar pantanoso é necessariamente o da reinvenção de si; as vivências dizem respeito à criação de modos de pensar e dar forma para conteúdos pessoais na constante situação de sentir-se estrangeira. A cada novo lugar um novo corpo: uma nova realidade se impõe e demanda novo movimento. A pertinência que este projeto traz se dá pela manipulação de conteúdos pessoais, mais afetivos do que históricos, mais imaginados do que familiarizados. A instalação de projeções simultâneas é o formato que mais se aproxima do exercício de performar nossas próprias memórias e dar sentido a um sentimento contemporâneo que exclui narrativas simples para mapear vivências e sentimentos em trânsito.

Ritual Cinefágico
Paola Barreto (UFRJ)

Neste trabalho, apresentamos uma investigação poética onde abordamos a imagem em movimento como lugar de invocação de espíritos e narrativas de origem. Considerando que a força do dispositivo do cinema reside justamente em suas capacidades performativas, concebemos o filme como fluxo de imagens que se movem e nos co-movem, agenciando corpo, memória e desejo. Deste modo o filme é compreendido a partir de uma conexão mágica entre imagens e espectadores, atuando sobre os corpos e os afetos. Neste contexto o cinema é entendido como acontecimento que interpela e provoca uma transformação na matéria: uma espécie de alquimia. Através da performance “Ritual Cinefágico”, propomos uma experiência de transformação dos corpos por meio de um rito com as imagens. Nos vapores que sobem de uma panela, onde preparamos uma comida que é compartilhada com os espectadores, criamos uma superfície de projeção. Desta forma, na transformação dos ingredientes em alimento, e do vapor d’água em imagens fantasmáticas, sugerimos saciar uma fome de sonhos, signos e mitos, colocando em diálogo a ancestralidade antropofágica e o monstro hipnótico do cinema.

Contribuições da metodologia ágil para o desenho e montagem de instalações audiovisuais interativas
Luis Astorquiza (Universidad de San Buenaventura Cali / Universidad de Caldas)

No engajamento com processos criativos, surgem inquietações decorrentes da identificação de processos metodológicos e da necessidade de transcender a disciplinaridade, particularmente em projetos que reúnem áreas tão variadas como a engenharia, a arte, a comunicação e as ciências sociais, entre outras. Pessat Çalx é uma instalação interativa que, mediante hologramas simulados recria imaginários da cultura indígena Nasa, permitindo que o espectador seja parte de um ambiente mágico, apinhado de símbolos e imagens que o levarão a uma experiência mística multimídia. Essa obra faz parte de um processo de criação no qual se busca a conjunção entre “sentido e tecnologia”, o primeiro termo enfocando as problemáticas de conflito e desaparecimento de línguas indígenas ancestrais, como o Nasa Yuwe; o segundo, para além do uso de dispositivos ou ferramentas, buscando a exploração de técnicas variadas de projeção e simulação holográfica. Usando espelhos e telas delicadas, quase imperceptíveis a vista, produzimos um cenário inovador, propício para a interação mísitica, que leva o espectador a se transportar por instantes ao território indígena Nasa.