2017 – GT01 – Festivais e Mostras: Mapeamentos

Vitória: 24/11, 13h30, Cemuni V, UFES

Por um cinema com arestas – A experiência da Mostra Corsária no Festival de Cinema de Vitória (2012-2015) (Erly Vieira Jr. (Ufes) & Rodrigo de Oliveira)

Em 2012, assumimos a curadoria do Festival de Cinema de Vitória, em meio a uma ampla reformatação de suas mostras competitivas, visando oferecer janelas de exibição mais adequadas para filmes autorais brasileiros. Buscamos repensar a grade de exibição a partir de novos programas, sob recortes mais específicos, que pudessem complementar o caráter mais panorâmico/cartográfico das mostras competitivas oficiais de curtas e longas-metragens.

Novas estratégias curatoriais foram experimentadas para tentar dar conta das especificidades de cada recorte. Um desses programas é a Mostra Corsária, que se caracteriza pela abertura a propostas audiovisuais de caráter mais experimental, de realizadores cujos nomes estão mais associados a projetos estéticos (e políticos) bastante aproximados ao risco e à expansão/esgarçamento de um repertório da linguagem audiovisual já consolidados – ou seja, filmes que apontem para o futuro do chamado “Novíssimo Cinema Brasileiro”. O próprio nome da mostra remete a um cineasta-farol para boa parte do cinema brasileiro contemporâneo: Carlos Reichenbach. Anualmente, de quinze a vinte títulos são selecionados para a Mostra e suas sessões são seguidas de debates entre realizadores e público. Alia-se, assim, o debate e a crítica à difusão dos filmes.

Este trabalho pretende ser um relato de experiências da dupla de curadores do Festival, referentes às quatro edições já realizadas da Mostra Corsária, focando as mudanças ocorridas a cada edição e buscando perceber de que formas as potentes arestas contidas no conjunto de filmes nela exibido vem a “contaminar” diretamente o caráter de outras mostras, em especial as competições oficiais (mainstream) do próprio festival.

Erly Vieira Jr é escritor e professor do Departamento de Comunicação Social e dos Programas de Pós-graduação em Comunicação (POSCOM) e Artes (PPGA) da Ufes. Doutor em Comunicação pela UFRJ, realizou dez curtas-metragens, exibidos e premiados em festivais nacionais e estrangeiros. É autor do livro Plano Geral – Panorama histórico do cinema no Espírito Santo (2015). Coordena o grupo de pesquisas CIA (Comunicação, Imagem e Afeto), na Ufes. Desde 2012, é curador do Festival de Cinema de Vitória.

Rodrigo de Oliveira é graduado em Cinema pela Universidade Federal Fluminense, é redator da Revista Cinética, além de crítico de cinema e cineasta. É roteirista do longas-metragem Exilados do vulcão (2013), de Paula Gaitán, e autor do livro Diário de Sintra (2009). Dirigiu e roteirizou os longas-metragens As Horas Vulgares (2011, co-dirigido por Vitor Graize) e Teobaldo morto, Romeu exilado (2015). Desde 2012, é curador do Festival de Cinema de Vitória.

 

As Mostras de Cinema de Bordas no Brasil (Bernadette Lyra (UAM))

No Brasil, o rótulo de cinema independente pode ser considerado como regra geral, não como um selo de exceção. Mas várias denominações dão conta da pulverização que ocorre nos mais diversos tipos de cinematografias que não param de se multiplicar, por força do desejo de fazer cinema,  sem ou quase sem nenhum recurso, sem distribuidoras majors e sem interferências do mercado global. Entre elas, se inclui o Cinema de Bordas. O termo Cinema de Bordas se aplica a filmes que apresentam características específicas de produção, realização e exibição. São filmes alternativos, invisíveis aos olhos do publico que frequenta as salas de exibição, realizados com baixíssimo orçamento, técnicas precárias, falta de aparatos tecnológicos, amadorismo de atores e atrizes, diretores autodidatas e muita criatividade. Desenvolvem narrativas marcadas pela ação e pelo sentimento, com um certo sotaque regional, pois são feitos em todas as regiões do pais e sobrevivem “às bordas” do cinema comercial ou artístico. Neles predominam os modos do sistema da cultura popular, como a oralidade e a corporalidade, intensamente contaminados pelas formas do cinema de gênero, já conhecidas, filtradas e repassadas pelo crivo do sistema massivo, como a televisão e a internet. São esses os parâmetros que uma curadoria deve levar em conta, ao selecionar e exibir filmes para Mostras de Cinema de Bordas em salas alternativas, debruçando-se, ao mesmo tempo, mais detalhadamente sobre os elementos materiais que constituem e especificam os filmes nesse tipo de produção.

Bernadette Lyra é Doutora em Cinema pela ECA/USP, Brasil, com Pós-Doutorado pela Sorbonne, Paris V, França. Professora Titular do PPGComunicação Audiovisual da Universidade Anhembi Morumbi/SP. Sócia Fundadora e várias vezes Membro do Conselho Deliberativo e do Comitê Científico da Sociedade Brasileira de Cinema e Audiovisual (Socine). Curadora e Jurada de Mostras de Cinema em várias cidades do Brasil. Criou o termo Cinema de Bordas. Tem livros e capítulos de livros e artigos sobre cinema e audiovisual, publicados no país e no exterior. É colunista quinzenal do Caderno Dois (Cultura) do jornal A Gazeta, de Vitória, ES.

 

Festival do Rio e a Construção do Imaginário da Cidade (Tetê Mattos (UERJ/UFF))

No século XXI estamos assistimos a uma série de transformações nas sociedades que irão impactar de forma vertiginosa na arte cinematográfica e revolucionar o cotidiano das massas, em especial no que diz respeito ao consumo de filmes. Para Henry Jenkins vivemos um momento de transição onde a convergência midiática está remodelando a relação entre os consumidores e os produtores de mídia (JENKINS, 2009, P.46). Os novos consumidores passam a ser os condutores dos processos de convergência, na medida em que se tornam mais ativos, mais conectados socialmente e de certa forma mais públicos.

A partir do estudo de caso do Festival do Rio, buscaremos entender, de que forma estas transformações irão refletir no segmento dos festivais audiovisuais.Buscaremos entender de que forma se dá a orquestração de discursos do Festival, como operam na mediação entre as “obras” e os “espectadores”, e como ele se relaciona com a cidade onde é realizado.

Observamos que há um discurso de construção/manutenção de um imaginário de representação da cidade do Rio de Janeiro, que a nosso ver, estabelece pactuações com a cidade num jogo que remete às representações onde a “Marca Rio” aparece como uma mercadoria a ser consumida.  A promessa da cidade ideal, cosmopolita, global, moderna, tecnológica pautada no clichê da “cidade maravilhosa” é visível em seu discurso, que reforça a narrativa da cidade como espetáculo. Há uma utopia de cidade maravilhosa estetizada pela paisagem que apresenta um simulacro do real.

Tetê Mattos é mestre em Ciência da Arte pela Universidade Federal Fluminense, e professora do Departamento de Arte desta Universidade. Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Comunicação da UERJ. Dirigiu os premiados documentários “Era Araribóia um Astronauta?” (RJ, 27min, 16mm, 1998), e “A Maldita” (RJ, 20min, 35mm, 2007). Diretora de “Maldita FM” (RJ, 95min, digital, 2013) em fase de finalização. Publica artigos em revistas e livros especializados em cinema. Foi coordenadora técnica do estudo “Diagnóstico Setorial 2007/ Indicadores 2006 dos Festivais Audiovisuais”. Exerce atividades de curadoria para vários festivais como o Goiânia Mostra Curtas (2006 a 2008), Cine PE (2009), Brazilian Film Festival of Miami (2009), Amazonas Film Festival (2005 a 2013), CineFoot (desde 2010), Cine Ceará (2012 a 2014) entre outros. Integrou a equipe de curadoria da Programadora Brasil (2009/2010). É idealizadora e diretora da mostra Araribóia Cine – Festival de Niterói.